Há algumas semanas o assunto mais falado e comentado no Brasil deixou de ser a corrupção no parlamento. Aos poucos o referendo que acontecerá hoje, dia 23 de outubro, tomou desde as páginas dos jornais às conversas de bar. Eleitores e eleitoras deverão responder sim ou não à pergunta: "o comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?" Para os que desejam se abster, é bom lembrar que para anular o voto basta digitar um número inválido no pleito e confirmar.
O referendo é uma determinação prevista pelo Estatuto do Desarmamento (lei 10.836/03) que, na realidade, não diz nada sobre a proibição do comércio das armas nem sobre a proibição da produção de armas. De acordo com seu artigo sexto, integrantes das Forças Armadas, das Guardas Municipais, de empresas de segurança privada e até de clubes de caça ainda terão o monopólio do uso de armas de fogo.
A "bancada da bala", integrada por setores reacionários como o PFL e fabricantes de armas, menciona o direito à propriedade do cidadão "de bem", uma argumentação altamente conservadora, que insiste na tese de que as pessoas fossem puras ou criminosas. Enquanto isso, a frente do "sim" usa basicamente dados de violência doméstica e faz crer que o que está em jogo é, de fato, o desarmamento - nunca utilizam dados da violência policial em bairros pobres e periféricos, por exemplo. Para além do "sim" e do "não", nenhuma das frentes discute a verdadeira causa econômica e social dos altos índices de violência urbana (que atinge em sua maioria pessoas pobres): a acumulação de riqueza, de acordo com o Censo de 2000, na mão de apenas 2,4% da população com salários superiores a R$ 22.487, contra os 48% que recebem menos do que R$ 520,00

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